sábado, 4 de outubro de 2014

12/06/2013 - 7 dia - Hontanas a Calzadilla de Los Cueza

Mapa de Altimetria:



Locais visitados:

Ruínas do Monásterio Santo Antón - pesado silêncio.


335 km - Castrojeriz - É um dos lugares com maior volume de monumentos (Colegiata de Nuestra Señora del Manzano, Igreja de Santo Domingo, Santiago de los Caballeros, fortaleza da igreja de San Juan e seu cláustro do século XIV, Monastério de Santa Clara, Ruínas do convento de San Francisco.

Provincia de Palencia

Itero del Castilho - Igreja paroquial foi dedicada a San Cristóbal. Ponte sobre o rio Pisuerga, conhecida como puente Fitero. 

342 km - Itero de La Vega -Ermita, de La Piedad, que mantem em seu interior uma talha de San Tiago Peregrino. 

347 km - Boadilla de Camino - Na entrada da cidade ha uma fonte de água unica. Para beber, tem que girar uma engenhoca parecida com um timão de navio. Rolo jurisdicional, onde era utilizado para amarrar, e se fosse o caso, julgar o réu. Igreja de Santa Maria.

354 km - Frómista - Igrejas do estilo românico, San Martín. 


357 km - Poblácion de Campos - Ermita de San Miguel, Igreja de Santa Maria Magdalena, N. S. Del Perpetuo Socorro.

367 km - Villalcázar de Sirga - igreja de Santa Maria La Blanca. 

371 km - Carrion de los Condes - Igreja de Santa Maria del Camino, desde o século IX albergue de peregrinos. Ermita La Piedad, convento de Santa Clara, Igreja de Santiago e na saída o monasterio Zoilo.

387 km - Calzadilla Cuezza - Monastério de Las Tiendas. 

Diário de Bike:

Hoje acordo com a maior preguiça e quando abro os olhos minha querida amiga Claudia já está em pé. Dou um 'pulo' da cama e começo a organizar minhas coisas, com medo de que ela me deixe para trás, devido a estar atrasada. Mas quando termino de me arrumar, olho novamente para ela e percebo que está fazendo tudo sem a menor pressa, tipo 'câmera lenta'. Esqueci que, de manhã, ela é bem 'relax'. Aliás, assim como eu, ela também não gosta muito de conversar logo cedo. Por isso, nos sorrimos, cumprimentamos e permanecemos em silêncio. 

Fazemos nosso café da manhã digno de rainhas, com granola, banana e iogurte. 


Após, damos adeus a linda vila de Hontanas e saímos em direção a algum lugar... 


Pedalamos em silêncio, acho que lembrando do maravilhoso dia que tivemos ontem... Hoje, o sol novamente deu o 'ar da graça' bem cedo, o que é muito bom. Acabo entendendo um pouco melhor a admiração que pessoas de países frios tem pelo 'astro rei'. Lembro-me que, há três anos, quando fui a Paris, achei cômico o fato de várias pessoas se reunirem, no período da tarde, em volta do rio Sena para tomar banho de sol. No entanto, soube que fazem isso devido a, no inverno, terem sol apenas das 10h às 16h, o que não é o suficiente para aquecer ou  bronzear. 

O caminho próximo a Hontanas, é muito parecido com as paisagens que vimos e admiramos de ontem... por isso, seguimos aproveitando todos os detalhes...





Neste trecho, após uma curva, surge agraciando nossa visão, as 'Ruínas do Monastério Santo Antón'. Já havia lido sobre este local. Como diz minha amiga Claudia, trata-se de mais uma "ghost village" (vila fantasma). De acordo com o livro que li, 'um pesado silêncio o cerca'. Apesar de pequena, a Ruína é maravilhosa...









Na sequência, chegamos em Castrojeriz, outra vila muito interessante. Aqui, há muito para se conhecer, no entanto, acho que precisaria de uns 30 dias no caminho, de bike, para fazer como gostaria. Infelizmente, com o tempo  que temos, paramos, fazemos algumas fotos e seguimos em frente. 









Uma parada rápida, vez por outra, apenas para pegar nossos carimbos pelo caminho. 



Vemos a frente alguns morros... a visão ainda é espetacular!




Gosto muito desta ponte de madeira... faço fotos e um pequeno filminho de nossa passagem por ela.



Chegamos ao pé de uma mega subida... antes de iniciarmos, já vemos as placas que sinalizam a dificuldade... 



Por isso, aproveitamos fazer um 'lanchinho' para subirmos bem nutrida. Foi a Clau que preparou nossos lanches, ontem a noite. Ela recheou o pão com um ometele enriquecido. Ficou ótimo!


Uma conferida a nossa volta e aquela percepção de paraíso. 



Chega de enrolar...'Bora' subir com muita calma... minha amiga é pequena mas é muito forte e, devido a isso, consegue subir a minha frente. O que é bacana, é que ela faz questão de estar sempre em meu campo de visão... vez por outra ela olha para trás, espera um pouco e depois segue. Isso é muito bom! Acho que fiquei traumatizada (rsrs). No meio da subida, minhas forças estão falhando, então caminho, paro, caminho mais um pouco, faço mais uma pausa... de repente, surgem dois anjos e pedem para que eu dê a bike para que empurrem para mim... imediatamente, passo a bike e subo em uma divertida conversa ao lado deles. Este que leva minha bike é mais um alemão. 


Ao chegarmos no topo, apresento ele a minha querida amiga Clau e eles tem uma animada conversa em seu idioma nativo... acho lindo! Mas da conversa só compreendo as risadas. Olha que mundo pequeno, ele conhece o pai dela. Depois disso, fazemos mais algumas fotos do alto e seguimos. 






Como tudo o que sobe, uma hora tem que descer, 'bora' enfrentar a inclinação, que não é pouca, e continuar aproveitando toda a beleza do caminho. 







Li sobre um simpático senhor, Manoel, que fica no caminho, após uma reta interminável, com uma mesa que contém água, refrigerantes, café e frutas. Detalhe: ele não está aqui para vender nada, aceita apenas um donativo, por aquilo que você pegar, 'se' você quiser e puder. Sua gentileza não passa despercebido e todos são muito generosos com ele também... Quando ele me vê pegando água da fonte, sugere que eu sempre despeje a água que tenho comigo, antes de colocar uma nova... ele diz que misturar águas, de fontes diferente, pode nos fazer mal. Faço isso durante todos os outros dias e acho que realmente ele tinha razão! 





Agora, o caminho segue margeando o Canal de Castilha, muito lindo por sinal... Claudia parece estar sentindo os efeitos do sol... por isso, espero por ela e faço o mesmo que ela fez comigo, hoje cedo, não saio do campo de visão dela. Observo que, conforme os quilômetros vão aumentando, sua roupa vai diminuindo... Ela já tirou a jaqueta, tirou a calça e sei que não passou filtro-solar. 'Pego no pé' dela, mas ela é muito teimosa... Me diz que quer aproveitar o sol para se bronzear um pouco... Sei é que ela vai pegar uma insolação, isso sim... Mas eu trouxe pomada de assadura, acho que vou ter de emprestar a ela, mais tarde. 

Aproveito o momento para fazer algumas fotos. 



Passamos para uma nova província, Palencia. 





Um bom trecho, próximo ao canal, não tem sombra. Por isso é um pouco desgastante. 




Chegamos a Boadilla del Camiño e paramos para tomar água da famosa fonte, que precisa ser rotacionada para funcionar. É impressionante como a água daqui é gelada.








Voltando para o caminho, acabo vendo uma mensagem escrita que me fez lembrar de meu amigo Francesco... 



Faço uma pausa, para fotografar, e Claudia me pergunta o que está escrito... como traduzir ânimo para inglês? Digo a ela que é algo como: Come on, Let's go! Ela quer aprender a falar, então, lá vai eu repetir diversas vezes até o sotaque alemão entender a palavra ANIMOOOO! Assim que ela aprende, tenho que aguentá-la dizendo o tempo todo ao meu lado... ânimoooo Claudia (rsrs)

Na sequência, minha amiga vai ficando novamente para trás... então, pedalo um pouco e aguardo a ela. Enquanto isso, aproveito para fazer algumas fotos. 







Pelo camiño, nesta região, há tantas 'Papoulas'... elas deixam tudo mais bonito com seu vermelho intenso. Além das flores, chegamos a uma parte do canal que possui estas eclusas. É a primeira vez que vejo uma e fico encantada!












Assim que passamos por aqui, encontramos dois ciclistas que nos cumprimentam. Seguimos para o centro da cidade, em Frómista, e decidimos parar a fim de fazer um lanchinho. Por lá, vimos novamente aqueles dois ciclistas que sentam em uma mesa próxima. Eles são Belgas e minha amiga conversa animadamente com um deles, em inglês, mas não consigo entender muita coisa, pois falam rápido demais. É uma pena que não tirei foto deles... acho que fiquei com certo 'ciuminho', pois ela não falava comigo (kkkkk)







Acho engraçado a forma como alguns peregrinos carregam o pão.



Continuamos nosso caminho fazendo mais algumas fotos.






Na cidade de Villasirga, gostamos muito desta mesa da foto abaixo. 










O sol está esturricando até a mim, do país tropical. Pedalamos até Carrión de Los Condes e, se pudesse escolher, gostaria de ficar por ali, uma cidade com muitos lugares interessantes para se conhecer com mais calma.









Reencontramos nossos dois recém amigos, os ciclistas Belgas, aqui no centro de Carrion. Eles já haviam chegado e tomado banho, pois pedalam muito mais rápido que nós duas. (Novamente não faço nenhuma foto deles). Ouço eles perguntando a Claudia se ficaremos por aqui e ela logo responde que 'não'... vamos seguir!






Então vamos lá, minha querida... 'bora' pedalar...






Ela percebe que já me sinto um pouco cansada e diz entender, caso eu queira ficar. Imediatamente digo a ela que quero ir. Somos uma equipe! Agora quem me espera é ela, por isso, pergunto se estou atrapalhando o seu ritmo. Ela diz que para ela está ótimo assim. Seguimos em frente, em retas que parecem não ter fim. Estamos pelo Camiño, portanto é terra e, mesmo assim, Claudia precisa me esperar. Para ajudar, meu joelho começa a doer. Tento não forçá-lo e, por isso, meu ritmo está ainda mais lento. Peço desculpa a ela, que diz não ter o menor problema. Chegamos em Calzadilla de La Cueza e logo na entrada da cidade, vimos um albegue. Embora havíamos avaliado a possibilidade de andar mais uns 10 km, ela percebeu que eu estava bem cansada, por isso, resolvemos dar uma olhada por aqui.




Vejo um quadrinho na parede, no mínimo curioso... é de uma cidade brasileira... Faço uma foto e vou entrando. 



Passamos por duas portas e, no pátio do albergue, vemos uma piscina incrível. Claudia dá uns pulinhos e gritinhos, olha para mim e faz o mesmo que havia feito com ela em Hontanas... 'Vamos ficar?', ao que eu respondo, 'Claro'! Aqui reencontro aqueles dois ciclistas italianos, do primeiro dia. Para variar, estão sentados e conversando animadamente (não me perdoo por não ter tirado mais uma foto deles). Eles me dão uma ótima noticia, que o dono daqui é brasileiro. Vou procurá-lo e encontro uma 'figura' em pessoa. Ele se apresenta como neném. É um moreno alto, de salvador, muito engraçado!





Quando vamos fazer nossas reservas, vejo um souvenir sobre sua mesa e resolvo comprar. Ele me dizia assim, "Leva não menina! Isso é caro e pesado!" Eu ria muito e perguntava... "Você não está vendendo isso? Como diz para eu não levar?", ríamos e Claudia nos olhava com aquela carinha de: 'To entendendo nada...' Como é bom falar em nosso idioma, estava sentindo falta disso... falar sem pensar muito... deixar a boca abrir e simplesmente sair o que vem a cabeça. 

Aqui pagamos E$ 8 euros. Era um grande quarto com muitasss camas. Acho que devia ter umas 20 beliches por andar. 



O banheiro era particularmente diferente. A área das pias era comunitária. Logo atrás, haviam várias portinhas com a área do chuveiro, ou seja, quando entrávamos no banheiro encontrávamos tanto homem como mulher. A parte engraçada era que tinha um mictório e 'este' não tinha portinha. Por isso, quando eu entrava, dava uma espiada antes, pois não estava a fim de surpreender alguém ali 'com a mão naquilo e aquilo na mão' (rsrs). 

A Claudia decidiu entrar na piscina. Para mim, a água está gelada... então, deixo ela aproveitando por lá e decido ir ao bar para comer algo, afinal, estamos quase o dia todo com um pão e tortilha. 

Peço uma pizza média e como inteira! Aproveito para tomar um chopp, enquanto falo com mamãe e com Filipe, pelo skype. Depois, compro este picolé que é simplesmente maravilhoso... 



Um pouco mais tarde, Claudia aparece por lá e contrata o menu do peregrino. Embora eu já tivesse jantado, sento-me na mesa com ela para que não fique só. É engraçado que ela pede um vinho e, depois que bebe, começa a falar tão rápido, misturando inglês com alemão e já não entendo nada (rs). Mas não falo a ela, apenas ouço-a, espelhando suas atitudes, ou seja, se ela ri eu apenas sorrio de volta, se ela faz cara de susto eu 'esbugalho' meus olhos também e assim nosso monólogo continua por um bom tempo... Quando ela termina de comer, colocamos os pães que sobram em minha mochila. Rimos muito por fazer isso e comentamos uma com a outra: "Ahhh se minha mãe me visse fazendo isso, ia dizer: 'Criei minha filha com tanto amor para ela levar o pão do jantar embora'". (muitas risadas)

Voltamos para o albergue e ao observar as pernas de Claudia, subindo as escadas na minha frente, percebi que estavam cheia de bolhas, devido ao sol de hoje. Mostrei a ela que se assustou. Como previ, peguei minha pomada de assadura e a fiz passar... 




Disse que iria tirar uma foto para enviar a mãe dela. (muitas risadas) 

Hoje nossas camas estão coladinhas. Estamos alegres e qualquer coisa nos fazia rir, como duas bobonas. Uma senhora, próximo a nossa cama, tira a calça e a blusa e fica um tempão, para lá e para cá, de calcinha e sutiã. Pronto, isso já é motivo para rirmos. Depois, um 'tiozão' fica andando de samba canção a nossa frente, rimos novamente. Comento com ela que estou cansada e gostaria que Santiago estivesse a apenas 1 dia de viagem... Ela me diz estar enganada... comenta que, daqui algum tempo, terei SAUDADES deste dia.. dou risada e concordo com ela. Claudia está cansadinha e logo vai dormir. 



Enquanto isso, começo a prestar atenção a uma senhora do meu lado direito. Pergunto se ela fala em espanhol ou inglês, mas não... ela está sozinha e com uma cara terrível de sofrimento... queria poder falar com ela, para entender qual é o problema. Apenas observo, sorrio e ela me retribui. Ela pega uma pomada de cânfora e começa a passar nos pés. Peço um pouquinho para meu joelho. Continuo observado ela e acho que acabo pegando no sono. 

Obrigada vida, por mais este dia!

4 comentários:

  1. este caminho é lindo demais, muita flor do jeito que eu gosto, e mais uma vez muito obrigado pelo amor e pela paciencia que vc Claudia teve com a minha filha!!!!!!bjs

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  2. Estou amando seu diário de bordo...
    Toda a sua descrição pormenorizada de tudo que viu e sentiu...
    Até parece que estou vivendo tudo com você de novo!!!
    Está indo muito bem, pode continuar as cenas dos próximos episódios!!

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    1. Nos próximos episódios você vai chegar... estou doida para escrever isso!

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