segunda-feira, 6 de outubro de 2014

10/06/2013 - 5 dia - Logrono a San Juan de Ortega

Mapa de Altimetria:




Lugares visitados hoje:


173km - Navarrete - Igreja Lá Assunción de Navarrete, de 1553

190 km - Najera Mosteiro de Santa Maria da Real 

196 km - Azofra - Igreja Nossa Senhora de Los Angeles

211 km - Santo Domingo de la Calzada - Aprecie a curiosíssima gaiola com um galo e uma galinha vivos dentro do templo. Praça é um cartao postal, muito lindo. 

219 km - Grañon - Igreja de San Juan, construída em XIV.

Provincia de Burgos

223 km - Redecilla Del Camino - Igreja Santa Maria


226,9 km - Viloria de Rioja - Albergue do Acacio (brasileiro) y Orietta, igreja Virgem de la Assunción.

229 km - Villamayor Del Rio 

230 km - Belorado - Há varias igrejas e mosteiros ( San Pedro, Santa Maria, Nuestra Señora de Belém, Hospital Peregrio, convento Clarisas, Cuevas de San Caprasio, San Valentín y Santa Pía) e uma ponte El Canto, sobre o rio Tirón. 

232 km - Tosantos - Ermita rupestre Virgen de la Peña e a igreja romanica N. S. De la Natividad.

234 km - Villambistia - ha uma fonte central. 

241 km - Vila de Villafranca Montes de Oca - Igreja de Santiago

263 km - San Juan de Ortega - Igreja é um complexo formado por duas igrejas, dois monastérios, um albergue (capacidade para centenas de peregrinos). 

Diário de bike:


Hoje acordei às 5h, com os peregrinos se arrumando para sair, e exatamente às 6h as luzes do albergue se ascendem. Sento-me na cama, observo minhas anotações, pego uma calculadora e faço uns cálculos... Andei 161 km em 5 dias, foram em média 32,2 km por dia, está péssimo! Faltam uns 650 km até Santiago e tenho 8 dias pela frente. Precisaria fazer uns 81 km por dia, se quisesse concluir, isto será impossível! Em um momento de desabafo, decido fazer um vídeo... 


Não sei muito bem o que fazer, mas preciso me arrumar e sair. Pego minhas coisas, me despeço de meus amigos Kim / Kurt e sigo. 

Ao partir, decido primeiramente limpar minha bike que estava extremamente suja. Mas olho para os lados e percebo que ainda é muito cedo... provavelmente, a esta hora, não vou encontrar nenhum lugar aberto, onde possa fazer isso. Por um instante até me imagino colocando a bike dentro de uma fonte (há tantas por aqui) e depois posso sair correndo antes da polícia chegar (momento de rir sozinha imaginando a cena). Sigo pedalando em direção a lugar nenhum...   De repente, passo por uma viela e vejo, lá ao fundo, um gari lavando a rua com um esguicho. Freio com toda força e volto para conferir se isso foi apenas uma miragem. Esfrego os olhos e nem acredito na visão que estou tento... Entro viela a dentro e pergunto a ele se posso lavar minha bike. Ele torce o nariz, olha para mim e diz: "Estou indo fechar a torneira. Você terá o tempo até eu chegar lá e fechar". Assim que ele vira as costas, desço da bike correndo e 'bato' o esguicho na bike e nos alforges. Temo ter molhado minhas roupas, mas está tudo tão sujo que penso ser melhor assim. O tempo é curto mas suficiente. Quase dou um beijo no gari, quando vou agradecer! Fico tão feliz em ter conseguido realizar a primeira idealização do dia! 


Com a bike limpa sigo em direção a rodoviária, para sondar o preço de uma passagem até o lugar que era para eu ter chegado ontem, Santo Domingo de La Calzada, 50 km para frente. Descubro que com apenas 8 euros resolvo mais este problema. Em 20 minutos o ônibus sairá, é exatamente o que faço...


Confesso que comprar a passagem foi muito mais fácil que entrar no ônibus. Me senti tão derrotada. Eu sabia dos motivos que me haviam feito ficar ontem a noite na cidade. Fiquei tão bem ao lado de Bárbara e Martina. Mas é muito difícil deixar para trás coisas que eu gostaria de ver... lembro-me novamente de Irache e Pablito. Mas hoje, é o preço que vou pagar para conseguir fazer o percurso todo dentro do prazo que tenho. 

Quando o ônibus chega, vejo alguns ciclistas e muitos peregrinos fazendo o mesmo. Observo que todos estão um pouco tristes. Este ônibus, segue de vila em vila pelo caminho, pegando e deixando pessoas. Em algum ponto durante a viagem, sobe um peregrino com uma faixa verde na cabeça. Assim que ele passa por mim, me dá um sorriso e percebo que ele fica me olhando atentamente. Me incomodo um pouco com isso, finjo que não estou vendo e faço uma cara de 'poucos amigos'. Quando levanto-me para descer, ainda dentro do ônibus, olho de relance para ele que me sorri novamente e diz, com um olhar que não consigo me esquecer: "Buen Camiño!" Retribuo um sorriso amarelo e percebo a importância que ele terá para que eu continue bem... ele me faz compreender que, não importa se foi do lado de fora ou do lado de dentro que cheguei aqui... ainda estou no 'Camiño' e é isso que importa! Respiro fundo, desço, tiro minha bike (que veio montada) no maleiro do ônibus, e sigo em frente. 

Quando olho em volta, me sinto feliz em descer e poder visitar esta cidade. Aqui é muito bonito! Confesso que não vi o galo / galinha vivos na gaiola, dentro da igreja, mas tirei algumas fotos pela cidade. 

Aliás, deixa eu contar o que descobri sobre a lenda do 'Galo'. Conta-se que no século XVI, um jovem chamado Hugonell, efetuava com seus pais sua peregrinação em Santiago de Compostela. Eles decidiram pernoitar em um albergue na vila de Santo Domingo. No entanto, Hugonell mostrou-se indiferente as investidas de uma jovem criada. Por vingança, ela teria colocado, em segredo, uma taça de prata em sua bagagem (do rapaz). Na manhã seguinte, a mulher teria chamado os guardas e o acusou de furto. O rapaz foi julgado, condenado e em seguida enforcado. Quando os pais do rapaz foram até o patíbulo para recolher o corpo, ouviram a voz de um anjo avisando que Santo Domingo havia poupado sua vida. Os pais do jovem seguiram até o rei, implorando que ele fosse libertado, pois estava vivo e com boa saúde. O rei, que estava na mesa jantando, não acreditou nesta história. Sua incredulidade, fê-lo exclamar: "Solto vosso filho quando este galo e galinha (que estavam servido sobre a mesa, para o jantar) cantarem novamente." Neste instante, as duas aves cobriram-se de penas, puseram-se a cacarejar e saíram correndo. Todos levantaram-se e correram para o local onde Hugonell estava, onde permanecida vivo e com saúde. Desde esse dia, na Igreja de Santo Domingo de la Caldaza, um galo e uma galinha, de penas brancas, são mantidos vivos no altar. Eles são substituídos a cada 20 dias e estarão em 'exposição' entre os dias 25 de abril e 13 de outubro. Outra lenda prega que, ao entrar na igreja, se você ouvir o galo cantar é um sinal que sua peregrinação será bem sucedida. 

Segue algumas fotos que fiz pela cidade:





























Apesar de 'tentar' me sentir bem, vez ou outra sentia um certo incômodo. Meus pensamentos forçavam-me lembrar como cheguei aqui (dentro de um ônibus) e tentava-me fazer ver as coisas de forma pessimista. Chego a pensar que, devido a isso, o dia estará 'perdido', pois não estarei bem... 

Mas o caminho nos reserva muitas surpresas e, exatamente neste momento, fui surpreendida com esta imagem:



Pense em uma 'situação' que nos permite perder qualquer mal humor rapidinho!

Na sequência, passo por um marco do caminho e fico sabendo que faltam 560 km até Santiago... será que eu consigo? Antes que perca meu tempo pensando nisso, coloco a música mais alto e tento me distrair. 



Hoje estou centrada! Sei que não tenho tempo a perder, caso eu queira chegar até o fim. Por isso, continuo meu caminho pedalando, apesar de ainda sentir uma certa dificuldade. Olho para a bike e me lembro que ainda não vi a calibragem dos pneus. Poucos quilômetros a frente, encontro um posto de gasolina. Quando olho para o aparelho de calibragem, vejo que é bem diferente dos que temos aqui no Brasil. Tento pedir que o frentista me ajude, mas ele simplesmente me ignora completamente. Volto para o aparelho e continuo observando, tentando compreender . Percebo um senhor descer de um carro e vir em minha direção para ajudar. Seguro em sua mão e agradeço (com um olhar que diz tudo). Ele clica em uns botões e acerta a configuração. Quando colocamos no bico, o marcador aponta 20 libras! Ele olha para mim e pergunta: "Quanto tempo você está pedalando com esta calibragem?" Respondo que fui de Saint Jean a Logroño (161 Km). Ele olha assustado e me diz: "Menina você é muito forte! Você está exatamente com a metade da capacidade disso. Vai sentir uma diferença enorme daqui pra frente". Ele coloca 45 libras, agradeço a ele e sigo em frente. Meu Deus, parece que tiraram 50 kg da bike! Agora sim, as 'rodas destravaram' e o 'elefante' saiu de minhas costas. Sinto novamente que tenho condições de chegar a qualquer lugar e isto fica evidente nos 80 km que consigo pedalar hoje. O único problema é que, quando muito se pedala, pouco se conhece e não se faz muitas amizades... por isso, hoje tenho minha meta cumprida, muitas fotos e muito pouco para contar... 

Segue algumas imagens que fiz, durante o caminho:








Atravesso para uma nova província, de Burgos. 





















Ainda é cedo e não comi nada consistente. Por isso, paro em um bar de estrada para comer algo. Peço uma 'Tortilha' (omelete) que estava deliciosa!










Aqui fica o refúgio de Acácio e Orieta. É uma pena não ter tido o privilégio de conhecer este brasileiro, casado com uma espanhola, que dão um show de atendimento no caminho (já li coisas incríveis sobre este lugar). Soube antes de vir, que estariam passando umas férias em outro país... ficará para uma próxima! 




















Por aqui, há muitos ninhos de cegonha. Isto me chama atenção, passo algum tempo observando e logo sigo em frente. 


















Observo este lugar, entalhado na rocha. Parece uma igreja. Resolvo dar meia volta para ir até lá. No entanto, lembro-me do que aconteceu quando saí do caminho para conhecer 'Eunate'. Sei que este lugar não está no caminho e há uma longa subida para chegar nele. Foco em meu objetivo, tiro uma foto de longe, abaixo minha cabeça e sigo em frente. 


















Adoro energia limpa! Admiro muito os países que utilizam meios puros de resolver o problema de forma positiva. Quem sabe um dia o Brasil 'chega lá'... 






O único problema é que enfrentar a força do vento neste trecho, foi mesmo difícil. Fiz até um pequeno vídeo para tentar mostrar.




Como expliquei no vídeo, para ganhar um pouco de tempo, sigo pela 'carreteira' (asfalto). Aqui, eu me canso menos. A N-120, que aparece na foto abaixo, é uma estrada que segue em direção ao meu destino. Por esta razão, infelizmente deixo de conhecer alguns locais como Atapuerca e Ages. 



Apesar disso, há umas construções muito bonitas, próximo da estrada. 


Meu objetivo era dormir em Burgos. Mas quando o relógio da 'Cinderela' espanhola bate as badaladas das 16h, a temperatura despenca e isso acaba comigo. Venta muito  e começo a sentir uma leve garoa. Por isso, sou obrigada a mudar de planos e abortar Burgos que está a 18 km. 

Sigo para San Juan Ortega, que fica a 4 km de onde estou. Antes de vir para cá, li um livro que falava sobre algumas vilas por aqui. Elas são assustadoras, pois parecem ser 'vilas fantasmas'. Não há ninguém, simplesmente parecem não ter vida. Passo por um lugar assim chamada 'Santovênia de Oca'. Por um instante, fico em dúvida numa bifurcação e, antes de seguir, quero ter certeza se  estou pegando o caminho que levará a 'San Juan Ortega'. Por isso, saio pela vila procurando alguém que possa me tirar esta dúvida. Quanto mais ando, mais tenho certeza de que não encontrarei uma 'viva alma' neste lugar. Começo a temer acabar tendo de perguntar a um 'fantasma'...  então vou embora. 

Sigo pela estrada que acredito ser o caminho certo. De repente, passa um caminhão e faço um sinal para que ele pare. Uma coisa que ainda não disse, é que os veículos respeitam absurdamente os 'peregrinos' e 'bicigrinos'. Quando estamos  pedalando no acostamento da carreteira, por exemplo, e um caminhão passa por nós, ele simplesmente joga o veículo na contramão, para que o vácuo não nos cause risco. Fico encantada com isso! Bom, o caminhão para quem acenei parou e tirou minhas dúvidas sobre o caminho. Ele me diz faltar uns 3 km até a vila que procuro. Sigo em frente e logo chego a um lugar muito interessante. 



A pequena vila não possui casas ou albergues... apenas uma igreja e um monastério, que abriga os peregrinos. Há também, um pequeno bar que serve as refeições. Quando olho melhor, lembro-me que li sobre este lugar! Trata-se do monastério onde um padre, que cuida do lugar, serve a famosa sopa de alho! Ao entrar, sou recebida por um simpático monge que me avisa sobre o valor do pernoite (E$ 5,00). Quando pergunto sobre o padre, e a sopa, ele me diz que, infelizmente, há dois anos ele faleceu. Digo a ele que sinto muito. Antes de me liberar, ele me mostra uma máquina de refrigerantes e bolachas, na sala ao lado, ou sugere a opção de jantar no bar. 


Subo umas escadas e sigo para o alojamento. Aqui é bem simples. O pior, é que o quarto está um gelo!! Deixo minhas coisas sobre a cama e vou para o banho. 



Há apenas dois chuveiros no banheiro das mulheres, um com porta e outro sem... o que não possui porta está disponível. Entro na 'onda' dos albergues... tiro minhas roupas e vou para o banho. Lembro-me de ter uma coreana no banheiro, segurando a porta para sua filha tomar banho... quando comecei a me despir, sinto que ela ficou 'sem graça'. No entanto, acho que a encorajei, pois assim que termino, ela tira sua roupa e entra no banho... acho isso engraçado. 


De banho tomado, sigo para o bar ao lado do mosteiro. É lá que todos jantam. Quando chego no local, todas as mesas estão ocupadas. Tento encontrar uma cadeira para uma 'pobre bicigrina solitária'. Olho em volta e percebo um grande grupo na mesa maior. Acho que são americanos. Pergunto a eles se posso me sentar...  Como se eu fosse uma leprosa sarnenta respondem: "Não!" Levei um susto com a resposta... não estava preparada para aquilo. Dou um passo para trás e imediatamente sinto alguém puxando meu braço. Olho e vejo um rapaz moreno, apontando uma mesa. Acompanho a ele, ainda pensando no que acabara de acontecer. Ele estava acompanhado de uma mulher. Assim que sento, explico a eles que não falo inglês corretamente e eles dizem que não há problemas. Ele me explica que, quando aprendeu, também teve muita dificuldade. O rapaz se chama Hasan e a mulher ao seu lado é sua esposa, chama-se Nazmul. Se não estou enganada, Hasan é natural de Bangladesh e Nazmul é alemã. Que casal fantástico! Eles moram atualmente em Londres. Conseguimos ter uma conversa ótima e em algum momento, pergunto a eles como é casar-se com uma pessoa de cultura tão diferente... quais os maiores problemas com isso. A resposta de Hasan é o máximo: "Eu cozinho para mim e ela para ela... assim não temos problemas..." dou muita risada com eles! Foi um jantar maravilhoso! Sorte a minha ter sido 'rejeitada' na mesa ao lado.



Volto para o albergue bem mais animada do que cheguei! Assim que entro, encontro uma moça loira na recepção que abre um sorriso lindo. Agora estou mais receptiva e também sorrio a ela... logo vem um senhor em minha direção falando um montão de coisas, super rápido, em espanhol. Entendo pouca coisa, apenas que 'vou morrer congelada se dormir no quarto que escolhi, pois ali não tem calefação'. Olho para a moça loira e sorridente, que continua ao meu lado, e pergunto se há vários quartos lá em cima. Ela responde que sim. Sigo a ela que me leva a um quarto bem quentinho, com janelas virada para o sol. Vou até o outro quarto, o super gelado, e trago minhas coisas para cá... Quando volto, a moça loira me chama para dormir na beliche sobre ela. Coloco minhas coisas sobre a cama e começamos uma animada conversa. Meu inglês com ela flui sem muitos problemas e ela parece entender exatamente tudo o que digo. Após muita conversa, descubro que esta menina loira chama-se Claudia (muita coincidência), é da Alemanha e mora atualmente em Londres. Ela disse ter me visto várias vezes, pelo Camiño. A primeira vez foi em Saint Jean. A segunda vez, foi la no 'melhor albergue' que passei a noite, em Los Arcos. Lembram-se da moça que lia um livro de Paulo Coelho? Era minha querida amiga Claudia. Ela me conta, que está fazendo o caminho de bike e está sozinha... Sozinha?? O único problema, é que ela está com uma bike de asfalto, pneus slic 29". Por esta razão, ela faz apenas carreteira e, no meu caso, prefiro ir pelo camiño dos peregrinos (trilhas de terra). Digo a ela que amanhã, podemos sair juntas e 'ver no que dá'... acompanharei durante um trecho e, caso a carreteira (rodovia) me 'canse', voltarei para o caminho.

Deito e começo a pensar melhor no que acabamos de combinar. Temo não conseguir acompanhá-la, assim como foi com todas as pessoas que tentei até agora. No entanto, já pedalei muito sozinha e, se tiver que continuar, assim o farei... por outro lado, pensar que amanhã não sairei sozinha daqui, me anima muito! Durmo muito bem esta noite! 





Fonte de pesquisa:
http://www.caminhodesantiago.com.br/walter/lendas/galos.htm

2 comentários:

  1. agora sua vida mudou este anjo que tbm se chama claudia foi uma luz agradeço de coração o carinho e o amor que ela dedicou a vc meu amorzinho!!!!!!bjs

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